Pesquisa do DNA da B. pertussis ajuda a diferenciar a coqueluche de outras síndromes de tosse prolongada 

Por: Dr. Jorge Luiz Mello Sampaio, Dr. Celso Granato e Dra. Carolina S. Lázari 

Pesquisa do DNA da B. pertussis ajuda a diferenciar a coqueluche de outras síndromes de tosse prolongada 

Nos últimos anos, vários países do mundo têm detectado aumento no número de casos de coqueluche. Muitos são os relatos recentes sobre esses eventos, como o ocorrido na Austrália, que registrou mais de 40.000 casos da infecção em crianças e adultos entre julho de 2010 e julho de 2011, o que representou aumento significativo da incidência anual média da doença naquele país. O incremento foi observado também em vários Estados dos EUA. No Brasil, o ano de 2011 foi marcado por surtos em Alagoas e na Bahia. Desde 2000, o Estado de São Paulo tem um sistema de vigilância da coqueluche baseado em unidades sentinela, o qual também constatou que o número de casos confirmados da doença está em ascensão.

A maior parte dos doentes encontra-se na faixa etária de menos de 1 ano e, principalmente, de menos de 6 meses, quando a imunização contra coqueluche ainda não está completa. Contudo, nos locais onde a cobertura vacinal é elevada, como São Paulo, a doença frequentemente afeta adolescentes e adultos jovens. Acredita-se que o principal motivo para a permanência da circulação da Bordetella pertussis se deva à queda dos títulos de anticorpos protetores, de cinco a dez anos depois da infecção natural ou da última dose da vacina. Em consequência da redução da imunidade contra a bactéria, os adultos portadores podem adoecer, além de se tornarem as principais fontes de infecção para os bebês. Desse modo, a coqueluche deve fazer parte do diagnóstico diferencial de tosse não produtiva, não somente nos lactentes, mas particularmente nos adolescentes e adultos.

Com base nessa constatação, muitos países têm modificado as recomendações de imunização contra a coqueluche, até então feita com DTP apenas para crianças, em um esquema de cinco doses, das quais três no primeiro ano de vida, com o primeiro reforço aos 15 meses e o segundo entre 4 e 6 anos de idade. A nova recomendação prevê que o reforço seguinte, anteriormente feito aos 15 anos com a vacina dT – portanto, sem o componente pertussis –, passe a ser realizado com a vacina tríplice bacteriana acelular formulada especificamente para o adulto (dTpa), o que é endossado pela Sociedade Brasileira de Imunizações. Entretanto, o calendário oficial brasileiro ainda não incorporou a dTpa, de modo que é muito importante o reconhecimento e a confirmação diagnóstica da doença, dado o risco de complicações graves, especialmente em menores de 1 ano.

Até recentemente, o método diagnóstico mais difundido era a cultura de material de nasofaringe em meio seletivo. Embora sua especificidade seja de 100%, a sensibilidade não ultrapassa os 60%. Além disso, sua positividade é satisfatória apenas nas duas primeiras semanas após o início dos sintomas e diminui abruptamente se for iniciada a antibioticoterapia. Assim, a PCR em tempo real para a pesquisa do DNA da B. pertussis, realizada no mesmo material, oferece vantagens, uma vez que apresenta maiores sensibilidade (de 77% a 99%) e especificidade (de 86% a 99%). Além de permitir o diagnóstico até a terceira semana após o início dos sintomas, o exame pode ser coletado até 72 horas a partir da introdução de antibióticos, com chances consideráveis de detecção do DNA.

A sorologia para coqueluche, que identifica anticorpos das classes IgM e IgG contra a bactéria, tem aplicação limitada. Além de o exame ser menos sensível, há ainda o fato de os anticorpos só serem detectáveis mais tardiamente em relação à positivação da PCR, de modo que, diante da disponibilidade da técnica molecular, o teste sorológico deve ser reservado aos casos em que os sintomas persistirem por mais de três semanas, nos quais a análise de duas amostras, com intervalo de 14 dias entre as coletas, pode confirmar o diagnóstico, constatando o surgimento ou o aumento dos títulos de IgG.

Link para conhecimento:

http://www.fleury.com.br/medicos/medicina-e-saude/artigos/Pages/pesquisa-do-dna-da-bpertussis-ajuda-a-diferenciar-a-coqueluche-de-outras-sindromes-de-tosse-prolongada.aspx