A genômica no diagnóstico das arritmias hereditárias 

Por: Fleury Medicina e Saúde  

 

COMO A GENÉTICA PODE AJUDAR A INVESTIGAR AS ARRITMIAS HEREDITÁRIAS

Com os avanços do conhecimento genômico no sentido de desvendar o papel dos genes no desencadeamento de várias doenças, a Medicina Diagnóstica teve de lançar mão de poderosas metodologias para flagrar variantes patogênicas relacionadas com diferentes condições.

Nesta oportunidade, destacamos justamente a participação dos genes nas arritmias cardíacas hereditárias. Por meio de diferentes painéis multigênicos, dos gerais aos mais particulares, o Fleury pode auxiliar a confirmar esses quadros, com impacto no diagnóstico, no tratamento e no aconselhamento genético dos pacientes.


PAINÉIS GENÉTICOS DISPONÍVEIS NO FLEURY


Arritmias hereditárias (35 genes)

ABCC9, ACTN2, ANK2, CACNA1C, CACNB2, CALM1, CALM3, CASQ2, CAV3, DES, DSC2, DSG2, DSP, EMD, GPD1L, HCN4, JUP, KCNE1, KCNE2, KCNH2, KCNJ2, KCNQ1, LMNA, NKX2-5, PKP2, PLN, PRKAG2, RBM20, RYR2, SCN5A, TGFB3, TMEM43, TNNI3, TNNT2, TRDN


Síndrome do QT longo (13 genes)

ANK2, CACNA1C, CAV3, KCNE1, KCNE2, KCNH2, KCNJ2, KCNQ1, SCN5A, AKAP9, KCNJ5, SCN4B e SNTA1


Síndrome do QT curto (4 genes)

CACNA1C, KCNH2, KCNJ2 e KCNQ1


Síndrome de Brugada (15 genes)

CACNA1C, CACNB2, CACNA2D1, GPD1L, HCN4, KCND3, KCNE3, KCNE5, KCNJ8, RANGRF, SCN1B, SCN2B, SCN3B, SCN5A, TRPM4


Taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica (9 genes)

ANK2, CALM1, CALM2, CALM3, CASQ2, KCNJ2, KCNQ1, RYR2 e TRDN


Fibrilação atrial (24 genes)

ABCC9, GATA4, GATA6, GJA5, HCN4, KCNA5, KCND3, KCNE1, KCNE2, KCNH2, KCNJ2, KCNJ5, KCNJ8, KCNQ1, LDB3, LMNA, NPPA, NUP155, RYR2, SCN1B, SCN2B, SCN3B, SCN4B, SCN5A


Síndrome da morte súbita (68 genes)

AKAP9, ANK2, CACNA1C, CACNB2, CALR3, CASQ2, CAV3, CSRP3, CTF1, DES, DSC2, DSG2, DSP, DTNA, EYA4, FBN1, FBN2, FKTN, GJA5, GPD1L, JPH2, JUP, KCNA5, KCNE1, KCNE2, KCNE3, KCNH2, KCNJ2, KCNQ1, LAMP2, LDB3, LMNA, LRP6, MYBPC3, MYH6, MYH7, MYL2, MYL3, MYLK2, MYOZ2, NEXN, NPPA, PKP2, PLN, PRKAG2, PSEN1 e PSEN2, RBM20, RYR2, SCN1B, SCN3B, SCN4B, SCN5A, SGCD, SLC25A4, SNTA1, TAZ, TCAP, TGFB3, TGFBR2, TMEM43, TMPO, TNNC1, TNNI3, TNNT2, TPM1, TTN e VCL

• Método: sequenciamento de nova geração (NGS) • Prazo dos resultados: em até 45 dias

PRINCIPAIS ARRITMIAS HEREDITÁRIAS

Síndrome de Brugada

Apesar de a maioria dos pacientes, sobretudo homens adultos jovens e sem cardiopatia estrutural, se manter assintomática, os portadores de síndrome de Brugada (SB) podem ter episódios de síncope recorrente ou mesmo crises convulsivas de etiologia inexplicada ou, ainda, morte súbita cardíaca, todos secundários à taquicardia ventricular polimórfica ou à fibrilação ventricular. Diante da suspeita do quadro, o eletrocardiograma é fundamental. A confirmação pode ser realizada pelo achado de uma variante patogênica em um dos genes associados ao quadro por meio do painel genético para SB.

Principais genes descritos na SB

Genes Associação
SCN5A, GPD1-L, SCN1B, SCN3B, SCN2B, RANGRF, TRPM4 Associados à codificação de subunidades dos canais de sódio cardíacos
HCN4, KCNE5, KCND3, KCNE3, KCNJ8 Associados à codificação de subunidades dos canais de potássio cardíacos
CACNA1C, CACNB2B, CACNA2D1 Associados à codificação de subunidades dos canais de cálcio cardíacos

Síndrome do QT longo

Caracterizada por um prolongamento no potencial de ação cardíaco, a síndrome do QT longo leva a quadros recorrentes de síncope em idade precoce, que podem evoluir para uma taquicardia ventricular grave e até mesmo para parada cardíaca. O ECG de repouso evidencia não somente um aumento do intervalo QT ou QTc (QT corrigido pela frequência cardíaca), mas também alterações morfológicas da onda T, associados com taquiarritmias, tipicamente a taquicardia ventricular tipo torsades de pointes. A pesquisa genética, por sua vez, é recomendada para confirmar o diagnóstico de indivíduos com quadro clínico sugestivo e aconselhada a todos os membros de uma família após a identificação de mutação no caso índice.


Genes mais frequentemente alterados na síndrome do QT longo e suas características

Genes % dos casos de SQTL atribuídos a mutações no gene Incidência de eventos cardíacos Fatores desencadeantes de eventos cardíacos Risco de morte súbita
KCNQ1 30-35% 63% Exercícios e alterações emocionais 6-8%
KCNH2 25-30% 46% Exercícios, alterações emocionais e sono 6-8%
SCN5A 5-10% 18% Sono 6-8%

Adaptado de: Alders M; Christiaans I. Long QT Syndrome. Gene Reviews® [atualizado em junho 2015].


Síndrome do QT curto

Marcada por um encurtamento do intervalo QT ao ECG, a síndrome do QT curto pode levar a uma síncope de origem inexplicada, parada cardíaca e morte súbita, geralmente ocorrendo em adultos jovens. Apesar de o ECG ser indispensável para a identificação do encurtamento do intervalo QT, muitas vezes tal achado não basta, já que não há um consenso claro em relação ao valor limite do QT abaixo do qual se considera um sinal patológico. Dessa forma, sugere-se o uso de critérios diagnósticos que auxiliem a definição do quadro, os quais englobam a pesquisa genética.


Principais genes associados à síndrome do QT curto

Genes Proteína codificada
KCNH2 Subunidade alfa do canal de potássio IKr
KCNQ1 Subunidade alfa do canal de potássio IKs
KCNJ2 Canal de potássio IK1
CACNA1C Subunidade alfa do canal de cálcio tipo-L

Taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica

Conforme sua nomenclatura, a taquicardia ventricular (TV) polimórfica catecolaminérgica se caracteriza por episódios de taquicardia ventricular polimórfica desencadeados por estímulos adrenérgicos, como exercícios e estresse emocional. Essa condição leva frequentemente os pacientes, em sua maioria crianças e adultos jovens, a episódios de síncope, com risco de evolução para fibrilação ventricular e morte súbita. O ECG de esforço é um dos principais recursos diagnósticos, uma vez que, quando feito durante atividade física, pode flagrar batimentos ventriculares prematuros e episódios de taquicardia ventricular não sustentada. A pesquisa de alterações nos genes relacionados à síndrome não só corrobora o diagnóstico em pacientes sintomáticos, como também permite o aconselhamento genético da família.


Principais genes associados à TV polimórfica catecolaminérgica

Genes Observações
RYR2
  • Responsável por 60-65% dos casos de TV polimórfica catecolaminérgica
  • Relacionado ao aumento da liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático
CASQ2
  • Associado a aumento da liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático
CALM1 e CALM2
  • Relacionados à codificação da calmodulina
KCNJ2
  • Associado à síndrome de Andersen-Tawil